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Bhagavad‑Gītā - Filosofia e Psicanálise

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A Bhagavad‑Gītā (ou “Canção do Senhor”) é um diálogo filosófico de imenso valor para a mente humana, situado no épico Mahābhārata . O texto desfila 700 versos distribuídos em 18 capítulos, onde Krishna , avatar de Vishnu, guia Arjuna , o guerreiro paralisado pela crise moral, às vésperas da batalha de Kurukshetra ( britannica.com ). Importância filosófica A Gītā harmoniza três grandes correntes filosóficas da Índia antiga: o sāṅkhya (dualismo matéria / espírito), o karma‑yoga (ação desprendida) e o bhakti (devoção) . Ela responde a perguntas eternas: “Quem sou eu? Qual meu dever? Como agir sem se perder?”. A sentença de Arjuna - “antes da guerra, prefiro a paz da morte” - abre espaço à filosofia como prática existencial . Origem, etimologia e período Bhagavad : do sânscrito bhagavat : “o Senhor, possuidor de glória”. Gītā : “canção”, de gī , “cantar” ( pt.wikipedia.org , pepsic.bvsalud.org ). O título significa “Canção do Senhor” - o canto divino que orienta o Ser. Foi...

Ansiedade, tristeza, depressão e melancolia

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Ansiedade, tristeza, depressão e melancolia: as nuances da dor psíquica Ansiedade, tristeza, depressão e melancolia são experiências humanas distintas, embora comumente confundidas no discurso cotidiano. Cada uma tem uma natureza própria, causas específicas e manifestações singulares no corpo e na mente. Para compreendê-las com profundidade, é necessário olhar para suas raízes etimológicas, seus fundamentos psíquicos e seus efeitos sobre o sujeito. Ansiedade deriva do latim anxietas , que remete ao estado de sufocamento, de inquietação interna. Ela é uma resposta natural do organismo diante de uma ameaça, seja real ou imaginária. Trata-se de uma tensão antecipatória que se manifesta tanto no corpo (taquicardia, sudorese, tremores) quanto na mente (ruminações, medo do futuro, sensação de que algo ruim vai acontecer). Na psicanálise, Freud já apontava que a ansiedade está ligada à angústia de separação, à perda de algo vital ou ao conflito entre pulsões. É uma das primeiras manifestaç...

Yoga Sūtra de Patañjali

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Yoga Sūtra de Patañjali: a psicologia da libertação O Yoga Sūtra de Patañjali é considerado a obra clássica fundamental do Yoga enquanto sistema filosófico. Composto provavelmente entre os séculos II a.C. e IV d.C. , o texto reúne 196 aforismos ( sūtras ) que descrevem o caminho da mente para o silêncio interior, rumo ao kaivalya  - a libertação absoluta da consciência. O nome Patañjali deriva do sânscrito: "pat" (पत्) significa “cair” ou “descer”, e "añjali" (अञ्जलि) é o gesto de mãos em prece. Segundo a tradição, ele “desceu como oferenda divina”. Há controvérsias sobre sua historicidade, mas é comum associá-lo a três obras: uma gramática ( Mahābhāṣya ), um tratado de medicina ayurvédica e os Yoga Sūtras . É possível que "Patañjali" seja um nome simbólico, representando uma linhagem de saber. A importância de sua obra para o Yoga é imensurável. Ele sistematiza o que era uma prática ancestral em oito passos ( aṣṭāṅga yoga ): Yama (condutas éti...

Sadhu - Conceito básico

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Sādhu: o caminhante do espírito Na vastidão do pensamento indiano, a palavra sādhu (साधु) ressoa como um chamado à transcendência.  Etimologicamente, provém da raiz sânscrita √sādh , que significa realizar , atingir um objetivo , fazer com eficácia . Assim, “sādhu” é aquele que alcança o propósito supremo - não no sentido mundano, mas no espiritual: a libertação ( mokṣa ), a unidade com o Absoluto ( Brahman ). Sādhu é o renunciante, o asceta, o devoto que abandona o ego e o desejo para viver uma vida de disciplina ( sādhana ), silêncio e meditação. Ele não pertence ao mundo, embora caminhe nele. Rejeita o efêmero e se consagra ao eterno. O conceito filosófico de sādhu aparece nas grandes escolas da Índia: No Vedānta , sobretudo no Advaita, o sādhu busca dissolver o eu ilusório ( ahamkāra ) na consciência impessoal do Ser. No Sāṃkhya , é aquele que reconhece a dualidade entre espírito ( puruṣa ) e matéria ( prakṛti ) e pratica o discernimento até libertar-se. No Yoga ...

Homem de bons costumes

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🧭 “Um homem que cultiva bons costumes está em paz com o seu superego e em diálogo com sua própria alma.” 🌿 Na visão psicanalítica, os bons costumes não são apenas normas sociais - são construções simbólicas que ajudam o sujeito a lidar com os impulsos do id (Inconsciente) e com as exigências da realidade. Quando o homem age com ética, ele não reprime: ele sublima -  transforma o desejo bruto em gesto nobre. 🎭 Na filosofia, os bons costumes são o alicerce da virtude. Aristóteles dizia que a excelência é hábito. E na alma humana, o hábito do bem molda não só a conduta, mas também o caráter. Um homem de bons costumes é, portanto, alguém que transita com mais leveza entre o desejo e o dever, entre o instinto e a civilização. 🌟 Ser correto não é ser perfeito - é ser coerente com aquilo que se quer ser. 💫 #Ética #Psicanálise #BonsCostumes #Filosofia #Autodomínio #Virtude #Freud #Aristóteles 📚 Referências: FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização , 1930. ARISTÓTELES. Ética ...

Melanie Klein

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🌿 Melanie Klein: um percurso de sofrimento, invenção e psicanálise profunda 🌿 Melanie Reizes Klein nasceu em 30 de março de 1882 , em Viena, Bauerngasse, como a caçula de quatro filhos do médico Moritz (Moriz) Reizes e da enigmática Libussa Deutsch. Sua irmã mais velha Sidonie faleceu com apenas oito anos de tuberculose aos quatro de Melanie, e o irmão Emmanuel morreu aos 20 de tuberculose e complicações medicinais — perdas que marcaram os alicerces emocionais da futura analista ( melanie-klein-trust.org.uk , minnickskleinacademy.com ). Cresceu num ambiente familiar culto, mas permeado por ausências e tensões: a mãe exercia autoridade, o pai oferecia estímulo intelectual . Na adolescência, Klein foi aluna aplicada e sonhava estudar medicina – resultado do exemplo paterno –, chegando a ingressar no Gymnasium aos 16 anos . Porém, aos 21, em 1903 , casou-se com Arthur Klein: um engenheiro químico tio de seus irmãos, e sacrificar sua carreira médica foi uma escolha imposta pelas norm...

Diferenças entre os sentimentos de: Pena, Dó, Compaixão e a Dor do Outro

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No universo dos afetos, convivem sentimentos semelhantes, mas distintos: pena , dó , compaixão e a dor do outro — cada um com raízes psicológicas específicas. Pena e dó se aproximam. A pena muitas vezes nasce de uma posição superior: “que pena dessa pessoa” — um afeto que pode revelar distância e julgamento passivo.  Já a dó traz uma abertura mais humana, reconhecendo a vulnerabilidade: “sinto dó do sofrimento alheio” — ainda centrado na emoção do sujeito, mas com menos escalonamento hierárquico. 🕊️ Compaixão , por outro lado, é entrar no lugar do outro, sentir junto. No grego, “pathos” (sofrimento) com o prefixo “com-” (junto). Nesse gesto se ativa a capacidade empática — com o outro situado no mesmo nível interno. É uma ponte emocional, que pode motivar cuidado real e ação compassiva. 🤝 A dor do outro é o que se apresenta como perceptível: é a cena emocional contextualizada, que pode despertar pena, dó ou compaixão, conforme as defesas do indivíduo. Na ótica da psi...