Sadhu - Conceito básico
Na vastidão do pensamento indiano, a palavra sādhu (साधु) ressoa como um chamado à transcendência.
Etimologicamente, provém da raiz sânscrita √sādh, que significa realizar, atingir um objetivo, fazer com eficácia. Assim, “sādhu” é aquele que alcança o propósito supremo - não no sentido mundano, mas no espiritual: a libertação (mokṣa), a unidade com o Absoluto (Brahman).
Sādhu é o renunciante, o asceta, o devoto que abandona o ego e o desejo para viver uma vida de disciplina (sādhana), silêncio e meditação. Ele não pertence ao mundo, embora caminhe nele. Rejeita o efêmero e se consagra ao eterno.
O conceito filosófico de sādhu aparece nas grandes escolas da Índia:
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No Vedānta, sobretudo no Advaita, o sādhu busca dissolver o eu ilusório (ahamkāra) na consciência impessoal do Ser.
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No Sāṃkhya, é aquele que reconhece a dualidade entre espírito (puruṣa) e matéria (prakṛti) e pratica o discernimento até libertar-se.
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No Yoga de Patañjali, o sādhu trilha o caminho dos oito membros (aṣṭāṅga-yoga) para atingir o samādhi, o êxtase do Ser.
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Já na Bhakti, o sādhu se entrega totalmente ao divino com amor e devoção, dissolvendo seu ego na graça da presença.
No Bhagavad Gītā, o termo “sādhu” aparece, por exemplo, no capítulo 9, verso 30:
api cet su-durācāro bhajate mām ananya-bhāk
sādhur eva sa mantavyaḥ samyag vyavasito hi saḥ
“Mesmo aquele que haja cometido os atos mais vis, se me adora com devoção exclusiva, deve ser considerado um sādhu, pois sua determinação está correta.”
(Bhagavad Gītā 9.30)
Aqui, Krishna (Deus) ensina que o sādhu não é perfeito no agir, mas firme na direção de sua alma. O essencial é a transformação interior, não a aparência externa.
Na psicanálise, especialmente à luz de Freud e Jung, o sādhu pode ser visto como a figura do sujeito que atravessa o recalque, enfrenta o inconsciente e busca a individuação. Como o analisante, ele não foge da dor, mas a transforma. Abandona as ilusões do Eu Ideal para confrontar sua sombra e reencontrar o Self.
O sādhu, enfim, é aquele que ousa morrer para o mundo... e renascer em si.
Etimologia:
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Sādhu (साधु) = aquele que realiza; de √sādh = “atingir”, “realizar com eficácia”.
Referências bibliográficas:
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Bhagavad Gītā, tradução de Swami Prabhupāda, verso 9.30.
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Feuerstein, G. The Philosophy of Classical Yoga. Inner Traditions, 1996.
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Eliade, M. Yoga: Imortality and Freedom. Princeton University Press, 2009.
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Jung, C. G. O Eu e o Inconsciente. Vozes, 2000.
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Radhakrishnan, S. Indian Philosophy. Oxford University Press, 2008.
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Monier-Williams, M. Sanskrit-English Dictionary. Oxford University Press, 1899.
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