Bhagavad‑Gītā - Filosofia e Psicanálise

Bhagavad-Gita

A Bhagavad‑Gītā (ou “Canção do Senhor”) é um diálogo filosófico de imenso valor para a mente humana, situado no épico Mahābhārata. O texto desfila 700 versos distribuídos em 18 capítulos, onde Krishna, avatar de Vishnu, guia Arjuna, o guerreiro paralisado pela crise moral, às vésperas da batalha de Kurukshetra (britannica.com).

Importância filosófica

A Gītā harmoniza três grandes correntes filosóficas da Índia antiga: o sāṅkhya (dualismo matéria / espírito), o karma‑yoga (ação desprendida) e o bhakti (devoção) . Ela responde a perguntas eternas: “Quem sou eu? Qual meu dever? Como agir sem se perder?”. A sentença de Arjuna - “antes da guerra, prefiro a paz da morte” - abre espaço à filosofia como prática existencial .

Origem, etimologia e período

  • Bhagavad: do sânscrito bhagavat: “o Senhor, possuidor de glória”.

  • Gītā: “canção”, de , “cantar” (pt.wikipedia.org, pepsic.bvsalud.org).
    O título significa “Canção do Senhor” - o canto divino que orienta o Ser.

  • Foi provavelmente composta entre o século II a.C. e II d.C., datada entre 100 a.C. e 200 d.C. por estudiosos modernos (bivipsi.org). A tradição acredita ser obra do sábio Vyāsa, compilador do Mahābhārata, mas muitos consideram ter passado por múltiplos redatores (iep.utm.edu).

Principais comentaristas e escolas

  • Adi Śaṅkara (séc. VIII d.C.) – interpretação vedānta advaita, enfatizando a não dualidade.

  • Rāmānuja e Mādhva – escolas vaiśnava que aceitaram o texto como autoridade central (iep.utm.edu).

  • No ocidente, recebem destaque Māṅgodhāra, Eknāth Easwārān, Huston Smith, além de Gandhi, que chamava a Gītā de “dicionário espiritual” (en.wikipedia.org).

Relações com a psicanálise

A Gītā já foi estudada como proto-terapia, comparada a práticas modernas como TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental) . Arjuna, num estado de crise emocional, exibindo sintomas que ecoam em depressão e ansiedade, recebe de Krishna um trabalho interno que lembra a modulação de pensamentos e crenças disfuncionais .

Autores como W. R. Bion, psicanalista britânico, viram convergências entre a experiência de transformação pessoal descrita na Gītā e a investigação de estados mentais profundos na análise clínica (pepsic.bvsalud.org). Bion acreditava que, como aprendemos a lidar com paixões e mitos, a mente se afina - e isso encontra eco no trabalho paciente/analista, ecoando os ensinamentos de Krishna .

Passagens-chave para filosofia e psicanálise

  • Cap. 2, vv. 16, 20: distinção entre corpo mutável e alma imortal - tema central na metafísica indiana e que dialoga com o inconsciente estrutural na psicanálise (ijip.in).

  • Cap. 2, vv. 62, 63: sobre desejo e aversão - esquemas que se encaixam nos estudos da regulação emocional (ijip.in).

  • Cap. 6, v. 5: “Eleva-te por ti mesmo e não te deprimas; pois a mente é teu amigo e também teu inimigo”: psicologia da mente e autodomínio (radhakrishnatemple.net).

  • Conceito dos guṇas (sattva, rajas, tamas), expressões da mente e personalidade - paralelo a traços e padrões na teoria da personalidade moderna (en.wikipedia.org).

A Gītā como ponte entre filosofia e psicologia

O texto atua como síntese entre filosofia prática e psicoterapia. Arjuna enfrenta um conflito interno, desconstruído por Krishna através de:

  1. Jnana‑yoga (conhecimento da própria natureza) - consciência de si;

  2. Karma‑yoga (ação sem apego) - modulação de condutas;

  3. Bhakti‑yoga (devoção) - ressignificação afetiva .

Essa tríade faz da Gītā um modelo de prática existencial: ensina a atuar na vida, corrigir a mente e transformar o sofrimento pela fé - elementos centrais em muitos modelos psicoterápicos contemporâneos e na filosofia existencial.

Este panorama revela a Bhagavad Gītā como ponte entre a filosofia prática, a espiritualidade e a psicoterapia moderna — um livro sagrado que, longe de ser fábula, é manual de alma.

📚 Referências bibliográficas

  1. Bhagavad Gītā, vv. 2.16, 2.20 & 6.5

  2. Internet Encyclopedia of Philosophy. “Bhagavad‑Gītā” (iep.utm.edu)

  3. Britannica. “Bhagavad Gita” (en.wikipedia.org)

  4. Wikipedia. “Bhagavad Gita”

  5. Arpan Das et al. (2025). “Spiritual intelligence and leadership” (researchgate.net)

  6. Clem­son News (2023). Gītā e nishkāma‑karma

  7. Joshi & Sahu (2023). “Psychological Well Being from the Perspective of Bhagavad Gita” (ijip.in)

  8. Reddy (2012). “Psychotherapy‑insights from Bhagavad Gita” (pmc.ncbi.nlm.nih.gov)

  9. Bion (2020). “Vedas e Bhagavad Gītā” (pepsic.bvsalud.org)

  10. Artigos sobre guṇas e estados mentais (en.wikipedia.org)

  11. Bhagavad-Gita - On-Line para Consultas

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