Yoga Sūtra de Patañjali
O Yoga Sūtra de Patañjali é considerado a obra clássica fundamental do Yoga enquanto sistema filosófico. Composto provavelmente entre os séculos II a.C. e IV d.C., o texto reúne 196 aforismos (sūtras) que descrevem o caminho da mente para o silêncio interior, rumo ao kaivalya - a libertação absoluta da consciência.
O nome Patañjali deriva do sânscrito: "pat" (पत्) significa “cair” ou “descer”, e "añjali" (अञ्जलि) é o gesto de mãos em prece. Segundo a tradição, ele “desceu como oferenda divina”. Há controvérsias sobre sua historicidade, mas é comum associá-lo a três obras: uma gramática (Mahābhāṣya), um tratado de medicina ayurvédica e os Yoga Sūtras. É possível que "Patañjali" seja um nome simbólico, representando uma linhagem de saber.
A importância de sua obra para o Yoga é imensurável. Ele sistematiza o que era uma prática ancestral em oito passos (aṣṭāṅga yoga):
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Yama (condutas éticas),
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Niyama (disciplinas pessoais),
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Āsana (postura),
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Prāṇāyāma (controle da respiração),
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Pratyāhāra (abstração sensorial),
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Dhāraṇā (concentração),
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Dhyāna (meditação),
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Samādhi (absorção no absoluto).
Para a filosofia indiana, o Yoga Sūtra é um elo entre o dualismo do Sāṃkhya e a prática meditativa. Ele entende a mente (citta) como o campo de batalha entre o ego e o real. Ao aquietar as vṛttis (flutuações mentais), o ser reencontra sua essência: puruṣa, o espírito puro, livre da matéria.
A semelhança com a psicanálise é notável. Tal como Freud observa os mecanismos do inconsciente, Patañjali descreve os kleśas - aflições psíquicas como apego, aversão, orgulho e medo da morte - que condicionam a mente. Assim como a análise revela os sintomas para alcançar a verdade do sujeito, o Yoga revela os condicionamentos que impedem a mente de perceber o real.
Ambos os caminhos - Yoga e psicanálise - são métodos de escavação da alma. Um oriental, outro ocidental. Um parte da respiração, o outro da fala. Mas ambos buscam o mesmo: a liberdade do ser.
Etimologia:
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Patañjali: de pat (descer, cair) + añjali (mãos postas em oração).
Referências bibliográficas:
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Patañjali. Yoga Sūtra. Trad. Georg Feuerstein. Shambhala, 2001.
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Eliade, Mircea. Yoga: Imortalidade e Liberdade. Martins Fontes, 2001.
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Radhakrishnan, Sarvepalli. Indian Philosophy. Oxford University Press, 2008.
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Jung, Carl G. A Psicologia do Yoga. Vozes, 2013.
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Freud, Sigmund. O Ego e o Id. Imago, 1996.
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