O Mal-Estar na Civilização: Freud e a Dor de Ser Humano

Por que sentimos culpa mesmo quando ninguém nos acusa? Por que a busca pela felicidade parece sempre esbarrar em limitações internas e externas? Em O mal-estar na civilização e outros textos escritos entre 1930 e 1936, Sigmund Freud nos oferece uma das análises mais profundas e inquietantes sobre a condição humana e os efeitos da cultura sobre o nosso psiquismo.

Este artigo explora os principais conceitos dessa fase madura do pensamento freudiano e propõe reflexões sobre como esses escritos continuam atuais – especialmente para quem busca compreender a si mesmo e os desafios do viver em sociedade.

🧠 Freud e o Mal-Estar: O Conflito entre Cultura e Pulsão

Freud afirma que a civilização, para existir, precisa reprimir as pulsões humanas – sobretudo as sexuais e agressivas. Essa repressão, embora necessária para a convivência, gera um profundo mal-estar psíquico nos indivíduos.

Principais ideias:

  • Superego e culpa inconsciente: A cultura cria um superego severo que pune não só os atos, mas os próprios pensamentos e desejos.

  • O preço da civilização: Quanto mais complexa a sociedade, maior a exigência de controle das pulsões — e, portanto, mais intensa a frustração individual.

  • Felicidade como problema: Para Freud, a felicidade não é um direito garantido; é um estado fugaz, possível apenas com algum grau de sublimação ou fuga da realidade.

💥 Pulsão de Vida e de Morte: Eros e Thanatos

A partir dos anos 30, Freud enfatiza o conceito de pulsão de morte (Thanatos) como uma força presente em todos os seres humanos — voltada para a destruição, o retorno ao inorgânico.

  • Eros representa as forças da vida, união, criação.

  • Thanatos age no sentido oposto, conduzindo à repetição, à destruição e ao sofrimento.

Essa dualidade é central para compreender os conflitos humanos, desde disputas pessoais até guerras mundiais.

🧑‍🏫 As Novas Conferências Introdutórias (1932)

Essas conferências complementam as anteriores, trazendo uma visão mais refinada da psicanálise e de suas aplicações:

  • Revisão da técnica psicanalítica

  • Análise da cultura e da religião

  • Símbolos nos sonhos e suas interpretações atualizadas

Freud reforça o papel da psicanálise como ferramenta não só clínica, mas crítica da cultura, capaz de revelar os mecanismos inconscientes que sustentam nossas crenças e instituições.

💡 Outros textos essenciais do período

🔍 Por que a guerra? (1932)

Carta escrita a convite de Albert Einstein, onde Freud discute a natureza da violência humana. Ele afirma que a guerra é expressão da pulsão de morte — e que o único antídoto possível é a cultura, aliada à razão e à sublimação.

🗨️ Comentário: Este texto é assustadoramente atual. Em tempos de polarização e violência simbólica (e real), Freud nos convida a olhar para dentro e reconhecer que a barbárie habita em todos nós.

🌺 Sobre a sexualidade feminina (1931)

Freud aborda a complexidade da psique feminina, especialmente o caminho de deslocamento do amor da mãe para o pai. Embora limitado pelos paradigmas de sua época, esse texto é fundamental para entender as bases do pensamento psicanalítico sobre o feminino.

🗨️ Comentário: É um texto que abre espaço para críticas e ampliações posteriores, como as feitas por psicanalistas mulheres e pelo movimento feminista.

🌍 Freud e a Atualidade: Por que ainda ler?

  • Porque a repressão continua ativa, embora com novas máscaras: produtividade, positividade tóxica, redes sociais.

  • Porque o mal-estar não desapareceu – apenas mudou de forma.

  • Porque entender o inconsciente é um caminho para a liberdade interior, ainda que parcial e dolorosa.

🧘‍♂️ Na era do excesso de estímulos e da aceleração, talvez a psicanálise seja o chamado ao silêncio necessário para nos reencontrarmos com o que fomos forçados a esquecer de nós mesmos.

📚 Referência bibliográfica

FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias e outros textos (1930-1936). Obras completas, volume 18. Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

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