12 passos dos Alcoólicos Anônimos
Os 12 Passos e o Inconsciente que Clama por Liberdade 🍃🌀🍷
Sempre que mergulho na história dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, sinto que estou diante de algo que transcende uma simples técnica de recuperação. É um verdadeiro caminho de retorno para si mesmo. 🌌
Tudo começou nos anos 1930, quando dois homens — Bill Wilson, um corretor da bolsa de Nova York, e o Dr. Bob Smith, médico de Ohio — se encontraram em meio à dor comum do alcoolismo. Ambos haviam fracassado em inúmeros tratamentos. Mas ao se encontrarem, algo diferente aconteceu: a identificação. Eles perceberam que, ao compartilhar suas experiências e dores, sentiam alívio e fortalecimento. Foi dessa troca que nasceu o embrião do que mais tarde se tornaria o Alcoólicos Anônimos. 🤝
A estrutura dos 12 passos surgiu da união de diversas influências: práticas espirituais cristãs, os princípios morais do Grupo Oxford (um movimento evangélico da época), o pensamento sobre reparação de danos, e até ideias próximas à confissão católica. Em 1939, essas ideias foram formalizadas no famoso Livro Azul, publicado pelos próprios membros do AA. 📘
A proposta dos 12 passos é profunda: reconhecer a impotência diante do vício, entregar-se a uma força maior, fazer um inventário moral, reparar os danos causados, desenvolver vigilância emocional e manter o compromisso de ajudar outros. Mais do que uma prática, é uma verdadeira filosofia de transformação.
💬 Mas o que a psicanálise tem a dizer sobre o vício?
Freud, ainda nos primórdios da psicanálise, já observava que o vício era uma forma de lidar com o sofrimento psíquico. O sujeito viciado busca, inconscientemente, anestesiar uma dor que nem sempre consegue nomear. O álcool, a droga ou o comportamento compulsivo tornam-se muletas para suportar um conflito interno não resolvido. Lacan, mais tarde, chamou isso de uma “resposta do real” ao que o simbólico falhou em organizar.
O vício é, nesse sentido, um sintoma: uma tentativa de resolução, ainda que disfuncional, de algo que falta. E é por isso que o tratamento psicanalítico, assim como os 12 passos, não se limita ao comportamento externo, mas busca escutar o desejo inconsciente que habita por trás da compulsão. 🎭
As primeiras instituições a aplicarem o método dos 12 passos foram os próprios grupos do AA, que depois inspiraram dezenas de outras comunidades terapêuticas: Narcóticos Anônimos (NA), Comedores Compulsivos (OA), Al-Anon (para familiares), e muitas outras. Hoje, esse modelo é utilizado em clínicas, igrejas, ONGs e até em contextos empresariais.
Cada passo é uma travessia. Não é apenas deixar de beber. É aprender a viver de outro modo. É reconhecer a própria sombra, estender a mão e, sobretudo, reencontrar o próprio eixo. 🙏
🌀 Vício não é falha de caráter. É um pedido do inconsciente por cuidado, escuta e sentido. E o mais bonito dos 12 passos é justamente isso: transformar dor em encontro, culpa em reparação, solidão em comunidade.
📚 Referências:
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Wilson, Bill. Alcoólicos Anônimos – O Livro Azul. Alcoólicos Anônimos do Brasil.
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Kurtz, Ernest. Not-God: A History of Alcoholics Anonymous. Hazelden, 1979.
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Freud, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização, 1930.
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Lacan, Jacques. Escritos (especialmente "A direção do tratamento e os princípios de seu poder", 1958).
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Gorski, Terence. Understanding the Twelve Steps. HarperOne, 1989.
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