Acolhimento e Empatia na Clinícia Psicanalítica
🧠 Acolhimento e Empatia na Clínica Psicanalítica: Essência, Etimologia e Prática
No setting psicanalítico, o acolhimento empático não é apenas uma atitude desejável — é uma necessidade clínica e ética. Sem ele, não há espaço para que o sujeito se expresse de forma autêntica, e a escuta profunda, que caracteriza a psicanálise, fica comprometida.
📜 Etimologia: O que significa acolher e ser empático?
🔍 Acolhimento vem do latim colligere, que significa “recolher, reunir, guardar com cuidado”. O prefixo “a-” indica direção, aproximação. Assim, acolher é literalmente “trazer para perto com cuidado” — uma bela imagem para o que se espera da escuta analítica: acolher o outro em sua dor, em seu silêncio, em sua fala fragmentada.
🔍 Já empatia vem do grego empatheia, formado por en (em) + pathos (sentimento, emoção). No sentido moderno, ser empático é sentir com o outro, sem se confundir com ele, mantendo uma escuta ativa e uma atitude receptiva.
💬 Acolher é mais que ouvir: é escutar com presença
Na clínica psicanalítica, o acolhimento empático é essencial desde o primeiro contato. Ele não depende de palavras afetuosas, mas de uma presença analítica autêntica, que transmite ao paciente a mensagem: “aqui você pode ser você mesmo”.
🌟 Três exemplos práticos de acolhimento empático na clínica
1️⃣ Paciente em sofrimento sem palavras
Um adolescente chega à análise após uma perda significativa, mas não consegue falar. O analista não força a verbalização, mas oferece escuta através do silêncio, do olhar atento, do tempo respeitado. Esse gesto silencioso comunica: “você não está sozinho”. E aos poucos, o adolescente começa a confiar e elaborar seu luto.
2️⃣ Mãe culpada por não amar a maternidade
Uma mulher relata que se sente péssima por não estar feliz com a maternidade, contrariando a idealização social. Ao invés de consolar ou julgar, o analista acolhe seu relato com empatia, permitindo que ela expresse suas angústias sem medo. Esse espaço validado torna possível ressignificar a experiência materna.
3️⃣ Homem com histórico de violência familiar
Um homem, que cresceu em um ambiente abusivo, traz à sessão traços de agressividade e resistência. O acolhimento empático não o rotula como “difícil”, mas compreende que sua forma de se proteger é fruto da dor. A escuta sem condenação cria o terreno para ele reconhecer suas feridas e transformar suas relações.
🛋️ Por que o acolhimento é tão importante na psicanálise?
O sujeito que procura análise, em geral, já sofreu tentativas frustradas de ser ouvido na vida cotidiana. Na clínica, ao se deparar com um analista que não julga, não interrompe, não exige mudanças imediatas, ele pode, pela primeira vez, experimentar um tipo de relação onde é possível ser, e não apenas parecer.
Esse tipo de acolhimento é o solo fértil onde a transferência acontece, e onde a fala pode se tornar cura. Ele sustenta o trabalho analítico em todas as fases do processo — do início ao fim.
📚 Referências bibliográficas:
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FREUD, S. Interpretação dos Sonhos. Obras Completas, vol. V.
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WINNICOTT, D. W. A Natureza Humana. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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RODRIGUES, H. R. A clínica do acolhimento: escuta, desejo e presença. São Paulo: Escuta, 2009.
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RIBEIRO, D. O pacto da escuta: psicanálise e alteridade. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
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