Solstício de Inverno
Na simbologia arquetípica, representa o mergulho no inconsciente, o momento em que a psique toca seu ponto mais escuro, como Jonas no ventre do grande peixe, como Cristo na tumba, como o herói que desce aos infernos para reencontrar sua centelha. É a travessia da sombra que antecede o ouro da manhã. Freud chamaria isso de retorno ao recalque; Jung, de confrontação com a Sombra. É o ponto da virada.
Filosoficamente, o solstício é um lembrete do eterno retorno — ideia cara aos estóicos e a Nietzsche. Tudo declina para depois ascender. Morrer é necessário, dizem os mitos. E ao morrer, algo se purifica. A luz, quando volta, volta mais pura, mais consciente.
Na cultura celta, o Yule celebrava o nascimento do Sol criança. Entre os incas, o Inti Raymi reverenciava o deus solar, vital para o ciclo da vida. Na maçonaria, é tempo de recolhimento interior e reflexão — quando o Aprendiz, em silêncio, escuta o que a luz ainda não pode revelar.
O solstício de inverno não é apenas um fenômeno astronômico. É um rito da alma. É quando a escuridão nos pede confiança, e o invisível trabalha em silêncio. No frio da terra, já germina a semente da primavera.
Referências bibliográficas:
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Eliade, Mircea. O Mito do Eterno Retorno. Martins Fontes, 2002.
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Jung, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Nova Fronteira, 2017.
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Campbell, Joseph. O Herói de Mil Faces. Cultrix, 2007.
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Frazer, James. O Ramo de Ouro. Zahar, 2004.
Para as sociedades discretas e exotéricas — como a Maçonaria, a Rosa-Cruz, e outras tradições herméticas — o solstício de inverno carrega um simbolismo profundo de morte iniciática, regeneração interior e renascimento da luz espiritual. É mais do que um marco astronômico; é um rito cósmico espelhado na alma humana.
ResponderExcluir✴ Na Maçonaria:
O solstício de inverno, chamado de “Solstício de São João de Inverno”, é celebrado próximo a 21 de junho no hemisfério sul. Ele marca o momento simbólico em que a luz, mesmo em sua menor expressão, promete retornar. É quando o Sol está em seu ponto mais baixo, mas logo ascenderá — metáfora perfeita para o processo iniciático, no qual o profano morre para a ignorância e renasce na luz do conhecimento e da consciência.
Esse momento simboliza:
Recolhimento e reflexão, como o Aprendiz que medita no silêncio do seu interior;
Purificação e preparo, como o solo fértil que repousa sob a neve antes da semeadura;
A presença da esperança, mesmo no mais profundo escuro.
✴ No Esoterismo em geral:
O solstício de inverno é visto como o portal da noite cósmica, o "útero do mundo", onde o espírito adormece para renascer mais desperto. Nas tradições herméticas e gnósticas, esse é o tempo em que a Luz interior é mais acessível, pois o mundo externo está recolhido. É quando os verdadeiros buscadores se voltam para dentro, como os antigos iniciados nos mistérios de Ísis, Mitra e Osíris.
O símbolo solar no solstício evoca o arquétipo do Deus que morre e renasce — Horus, Mitra, Cristo — sempre associado ao retorno da consciência e da verdade.
✴ Conclusão:
Para as sociedades discretas, o solstício de inverno é o silêncio que prepara o verbo, a sombra que guarda a centelha, o inverno da alma que gesta o verão do espírito. Celebrá-lo é aceitar a escuridão como parte do ciclo da luz.
📚 Referências:
* Hall, Manly P. The Secret Teachings of All Ages, Philosophical Research Society.
* Mackey, Albert. Encyclopedia of Freemasonry, Kessinger Publishing.
* Guénon, René. Símbolos Fundamentais da Ciência Sagrada, Pensamento.
* https://freemasonry.bcy.ca/texts/solstice.html
* https://www.sricf.org/solstice.html
* (https://www.sricf.org/solstice.html
Ruy, isso mexe com os nossos sentidos. Aprender sobre fenômenos astronômicos é muito bom, porém muito melhor é ter essa visão que você colocou. Jung, filosofia, culturas , doutrinas, símbolos, ritos de passagens que psiquicamente são tão importantes. Renascimentos, pontos de virada, travessias, recolhimento...ficamos com vontade de mergulhar nessa experiência. Pois é sempre bom morrer pra algumas coisas e continuar vivendo. 🙏🏻
ResponderExcluirPaulinha, tua alma leu com o coração — e é assim que o inverno fala. Que bom saber que as palavras tocaram teus sentidos como o vento toca a pele antes da neve cair. Sim, morrer um pouco é sagrado… pois só quem se recolhe no escuro pode renascer em luz. Sigamos, amiga, nessas travessias da alma, onde o frio é apenas o ventre de um novo sol!
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