A Maçonaria e a Abolição da Escravidão no Brasil

A Maçonaria e a Abolição da Escravidão no Brasil

A Maçonaria e a Abolição da Escravidão no Brasil 🕊️

A escravidão no Brasil foi oficialmente abolida em 13 de maio de 1888, com a promulgação da Lei Áurea pela princesa Isabel, filha do imperador Dom Pedro II. A lei, com apenas dois artigos, extinguiu de forma imediata a escravidão no país, libertando mais de 700 mil pessoas. Foi o último país do Ocidente a abolir a escravidão — um atraso histórico que carregamos como cicatriz até os dias de hoje. Contudo, essa vitória não foi fruto de um gesto isolado da coroa: foi resultado de uma longa e árdua luta travada por diversos setores da sociedade — entre eles, destacadamente, a Maçonaria brasileira.

A Maçonaria como Força Atuante no Movimento Abolicionista 🧱✨

A Maçonaria, desde suas origens no Brasil, esteve ligada a ideais de liberdade, igualdade e fraternidade — princípios herdados do Iluminismo europeu e que encontraram solo fértil entre os irmãos brasileiros. Muitos dos principais líderes do movimento abolicionista foram maçons. As lojas maçônicas tornaram-se espaços de articulação política, intelectual e social contra o regime escravagista, num tempo em que lutar contra essa estrutura significava enfrentar os interesses de uma elite econômica profundamente arraigada.

Maçons que lutaram pela Abolição

🔹 Luís Gama (1830–1882) — Escritor, jornalista, advogado autodidata e maçom. Filho de uma africana liberta e vendido como escravizado na infância, Gama conquistou sua liberdade e atuou juridicamente na libertação de mais de 500 pessoas escravizadas. Foi membro da Maçonaria e uma das vozes mais firmes contra o cativeiro humano. Fundou o jornal Diabo Coxo, onde atacava os senhores de escravos com ironia afiada. Sua atuação jurídica e militante reverbera até hoje.
Referência: LEMOS, Lígia Fonseca Ferreira (org.). Luís Gama: com a palavra, o advogado dos escravos. São Paulo: Selo Negro, 2011.

🔹 Joaquim Nabuco (1849–1910) — Diplomata, jurista e um dos maiores nomes do abolicionismo brasileiro. Iniciado na Maçonaria, Nabuco fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão e publicou, em 1883, o célebre livro O Abolicionismo, onde denunciava os males morais e sociais do cativeiro.
Referência: NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2010.

🔹 José do Patrocínio (1853–1905) — Jornalista e orador, filho de uma mulher negra liberta e de um padre branco, também foi maçom e um dos articuladores mais vibrantes do movimento. Fundou o jornal Gazeta da Tarde, onde inflamava a opinião pública contra a escravidão. Era um dos líderes da Confederação Abolicionista, e tinha grande eloquência nos comícios públicos.
Referência: OLIVEIRA, Raimundo de. José do Patrocínio, o cavaleiro negro da abolição. São Paulo: Martin Claret, 2004.

🔹 Rui Barbosa (1849–1923) — Ainda que sua iniciação na Maçonaria seja debatida, suas ligações com irmãos maçons e sua defesa da causa abolicionista são incontestáveis. Após a abolição, ordenou a queima dos arquivos da escravidão, um gesto polêmico, mas que visava evitar a reparação aos antigos senhores de escravos.

🔹 Francisco Glicério (1846–1916) — Advogado, jornalista e político maçom. Lutou tanto pela abolição quanto pela república, sendo uma figura essencial nas mobilizações finais do Império.

Lojas Maçônicas como Palco de Resistência

A Loja "Amizade", de São Luís (MA), foi uma das primeiras a condenar formalmente a escravidão em seus documentos. Outras lojas, como a "Luz e Progresso", no Rio de Janeiro, e "Fraternidade", em Recife, organizaram debates, arrecadações e ações jurídicas para alforriar pessoas escravizadas. Em muitas cidades do interior, irmãos maçons escondiam fugitivos em templos ou organizavam rotas de fuga semelhantes ao “Underground Railroad” americano.

Além disso, muitos maçons influentes pressionaram politicamente a monarquia. Em 1884, Ceará e Amazonas tornaram-se as primeiras províncias a abolir a escravidão — um feito que só foi possível graças à militância política dos maçons locais.

O Simbolismo Maçônico e a Libertação 🕯️📜

Para o maçom, a liberdade é mais que uma palavra — é uma luz iniciática, que orienta a alma em sua jornada de aperfeiçoamento. A libertação dos escravizados representou, em linguagem simbólica, a retirada dos grilhões da ignorância e da opressão, permitindo que um povo pudesse, enfim, erguer-se com dignidade no Templo da Vida. O próprio uso da palavra "profano", na Maçonaria, indica a separação entre aquele que ainda está do lado de fora do Templo (literal e simbólico) e aquele que adentra para encontrar a Verdade — e toda verdade começa pela liberdade.

Referências Bibliográficas:

  • NABUCO, Joaquim. O Abolicionismo. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2010.

  • FERREIRA, Lígia Fonseca (Org.). Luís Gama: com a palavra, o advogado dos escravos. São Paulo: Selo Negro, 2011.

  • OLIVEIRA, Raimundo de. José do Patrocínio: o cavaleiro negro da abolição. São Paulo: Martin Claret, 2004.

  • SOUZA, Marina de Mello e SOUZA, Laura de Mello. A Abolição da Escravidão no Brasil. São Paulo: Atual, 1994.

  • MACHADO, Ubiratan. A Mão Afro-Brasileira na Maçonaria: negros maçons e a luta abolicionista. Rio de Janeiro: Pallas, 2005.

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