Poesia: A voz que escuta
A Voz que Escuta Quando o sujeito fala, As palavras deslizam como rios, Fluem do inconsciente, atravessam margens, Mas quem a escuta, na vastidão interna? O que se diz ecoa nas paredes da alma, É o "eu" que fala ou outro, oculto em sombras? Na associação livre, algo se revela, Mas alguém, em silêncio, está sempre a ouvir. A língua tropeça em desejos velados, Vontades contidas, medos camuflados, E no abismo do dito, surge uma presença, Quem é aquele que, oculto, escuta o que é dito? Se a fala revela o que o inconsciente oculta, Há um espectador nas profundezas da mente, Escuta-se a si mesmo, ou algo além? Quem é Aquele que decifra o revelado? O Sujeito se perde nas tramas do discurso, E ao falar, encontra um outro dentro, Que ouve, que sente, que sabe o que há, A verdade secreta que o "eu" não pode enxergar. Talvez seja o desejo, talvez seja o medo, Ou uma figura ancestral que lá dentro habita, Escuta-se ao falar, e ao escutar-se, Descobre-se...